Jesus e a cultura do cancelamento

Escrito em 10/01/2021
Pr. Carlos Jefferson


Introdução:

    A palavra ‘cancelado’ tem um significado social contundente em nossos dias. Atualmente, quando um anônimo ou uma celebridade se comporta ou se expressa de forma diversa aos padrões culturais estabelecidos como preferenciais de determinado meio ou comunidade, o mesmo é alvo de um cancelamento: recebem apelidos humilhantes, adjetivos pejorativos; seus produtos ou imagem pública são rejeitados e seus eventos são boicotados se for um artista ou esportista famoso.

    A cultura do cancelamento hoje, graças ao advento das redes sociais, elege como bodes expiatórios aqueles considerados como culpados sociais dos males da coletividade, sumariamente dispensado qualquer critério de discernimento de ‘mérito de condenação’ ao acusado. Não estamos falando de uma justa reinvindicação de um tema social relevante: mas tratamos do ataque sistemático à reputação social de alguém sem a concessão de defesa moral, contraditório ou mesmo a recuperação/reabilitação social.

    O cancelado vai lidar com as consequências disso “até quando o Google existir” como disse o articulista Ross G. Douthat em sua coluna no famoso jornal americano NYT.

*Para mais informações e reflexões sobre esse assunto assista o seriado “Control Z” (Netflix) e ao vídeo “Cultura do cancelamento” com o Prof. Luiz Felipe Pondé e Leandro Narloch no YouTube.   

  1. “Jesus é tão relevante como hoje e sempre”
    1. “O Ocidente moderno parece muito com a cultura antiga em que Jesus habitava (e isso nos sugere que Ele não saiu de moda). O radar de Jesus pela vergonha injustificada o levou a procurar o jovem (que fora cego). Com terna autoridade, Ele se revelou como o Messias. Ele deu ao jovem não apenas a honra da visão física mas também a maior honra da visão espiritual (v.39).  Jesus transformou sua identidade cheia de vergonha numa identidade de honra. Ele substituiu uma honra social temporária concedida por hipócritas pela honra transcendente concedida somente por Deus” (Abdu Murray – Livro ‘Jesus e a Cultura do Cancelamento’).

 

  1. “eu vim a este mundo para juízo”: no v. 39, a missão do Filho de Deus se descreve como uma oportunidade imerecida antes de uma sentença irrevogavelmente justa, uma vez que para a humanidade é impossível a auto salvação, quiçá a autorregenerarão!   (Jo 3.16-17; Rm 5.6-8);

 

  1. “a fim de que vejam... e se tornem cegos...”: (idem) crer é o diferencial do remido, o indicativo do poder de Deus operando nele para sua novidade de vida (Ef. 2.4-5); simetricamente, resistir à Fé para Salvação é o atestado da natureza caída, que insiste em tratar a eternidade com artifícios temporais (como a moral religiosa, por exemplo);

 

  1. O pecado, portanto, traz tanta convicção ao pecador quanto a vista para quem enxerga; a graça gera tanta dependência de Cristo para o salvo quanto a cegueira do cego que nunca enxergou por si. Veja o exemplo de Bartimeu em Mc 10.51-52.

 

  1. A religiosidade que cancela a verdadeira relação com Deus (v.40)
  1. 1 Não é em vão que nos evangelhos os fariseus são vistos como os principais opositores de Cristo: eles são os verdadeiros canceladores espirituais da graça de Deus (Mt 23.1-36 – destaque ao v.19);
  2. 2 A convicção de um privilegiado por um direito adquirido mas desprovido de arrependimento pessoal revela uma espiritualidade vazia de significado, conforme o evangelho (Lc 12.36-36; Rm 2.17-24; Ap 3.17-19);

 

  1. 3 Era assombroso para o fariseu ser reprovado por Cristo em face de sua notória aprovação popular, uma vez que isto lhes era um fato concreto e vitória moral inquestionável (Mt 3.7; Lc 5.17); “Cuide sua piedade que Deus cuidará de sua reputação” – Hernandes Dias Lopes

 

  1. Perdão: a atitude de Cristo que cancela toda a culpa (v. 41)
  1. 1 Não há, em ninguém, uma autoafirmação resistente ao cancelamento do pecado até que se veja o pecado cravado na Cruz! (Cl 2.14-15)
  2. O perdão que vem da Cruz não apenas cancela o pecado de ontem como também o de hoje e amanhã, pois está firmado na justiça de Deus – CRISTO -  que é para sempre (2Co 5.21);

 

Conclusão Final: Para cancelados e canceladores a boa nova do Evangelho é que a misericórdia triunfa sobre o Juízo (Tg 2.13).

 

Aplicação prática :

  1. P/ cancelados e canceladores: que haja em ambos o mesmo sentimento de Cristo Jesus: o autoesvaziamento (Fp 2.5);
  2. Que encontremos somente em Cristo verdadeiros significados – eternos – para nossa vida em todos os sentidos;
  3. Que se possa enxergar nossos pecados cravados na Cruz de Cristo, para sempre, de modo que nos seja possível (pessoal, relacional e socialmente) viver em novidade de vida pela Fé (Rm 6.4; Gl 2.20).