A Regeneração precede a vocação familiar

Escrito em 19/02/2021
Pr. Carlos Jeferson


TEXTO BÍBLICO: Lc 14.1-14

"Aconteceu num sábado que, entrando ele em casa de um dos principais dos fariseus para comer pão, eles o estavam observando.
E eis que estava ali diante dele um certo homem hidrópico.
E Jesus, tomando a palavra, falou aos doutores da lei, e aos fariseus, dizendo: É lícito curar no sábado?
Eles, porém, calaram-se. E, tomando-o, o curou e despediu.
E respondendo-lhes disse: Qual será de vós o que, caindo-lhe num poço, em dia de sábado, o jumento ou o boi, o não tire logo?
E nada lhe podiam replicar sobre isto.
E disse aos convidados uma parábola, reparando como escolhiam os primeiros assentos, dizendo-lhes:
Quando por alguém fores convidado às bodas, não te assentes no primeiro lugar; não aconteça que esteja convidado outro mais digno do que tu;
E, vindo o que te convidou a ti e a ele, te diga: Dá o lugar a este; e então, com vergonha, tenhas de tomar o derradeiro lugar.
Mas, quando fores convidado, vai, e assenta-te no derradeiro lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, sobe mais para cima. Então terás honra diante dos que estiverem contigo à mesa.
Porquanto qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado.
E dizia também ao que o tinha convidado: Quando deres um jantar, ou uma ceia, não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te seja isso recompensado.
Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos,
E serás bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas recompensado te será na ressurreição dos justos."

 

Introdução:

                O cenário narrado é muito interessante e espelha muito bem a realidade espiritual de muitos lares: o dia (shabá) é sagrado, mas as intenções dos corações dentro da casa são bem temporais; o momento é festivo, mas isto não significa imediatamente COMUNHÃO para todos os presentes; há ortodoxia na fé dos anfitriões e convidados, mas isto não lhes curava da indiferença em relação ao sofrimento alheio (um doente estava na 'cota' dos convidados-coitados), nem mesmo da cegueira espiritual já que Jesus estava na festa como sendo mais um convidado.

                A cena proposta pelo texto mostra o embate de ideia teológicas censuradas pela graça de um milagre expresso num ato de misericórdia, em meio a uma casa que estava cheia de gente vazia , incapaz de perceber a Hora e a Forma pela qual o reino de Deus já havia chegado (v15). Também enosso lar, a vocação familiar de receber a Cristo é precedida pela regeneração ocasionada por Cristo, conforme as Escrituras.

 

  1. Um lar que precisa da graça para viver!

                1.1 Ainda que com tantas positividades externadas, o 'lar do fariseu' ainda estava 'morto em seus delitos e pecados'...(Ef 2.1), demandando uma ação que somente Jesus poderia realizar, mas que nenhum deles poderia colaborar (Ef 2.5);

                1.2 "Não podemos assistir o Espírito Santo vivificar nossas almas para a vida espiritual da mesma forma que Lázaro não podia ajudar a ressuscitá-lo dos mortos" (R. C. Sproul);

                1.3 Tomás de Aquino também ensinou: "a graça que vem antes da fé, a regeneração";

                1.4 Tal realidade, quando ignorada coloca em choque a revelação de Deus (Jesus) e a nossa autopercepção (v3); somente pelo Espírito, somos expostos em nosso pecado e nos arrependemos (Tt 3.3-6), do contrário nos silenciamos ao chamado regenerador de Jesus (v4), cristalizando tabus, rixas, traumas dissensões e distorções diversas no âmbito familiar como uma resistência espiritual à manifestação de Jesus dentro de casa.

 

2.  Um lar que, prioritariamente, exerce misericórdia no convivium

                2.1 A iniciativa do milagre de Jesus denunciou a verdadeira (e única ) prioridade do coração daqueles que mestres da lei em relação à Palavra e ao povo de Deus(v5+6; Mc 2.15-17);

                2.2 Na convivência misericordiosa de Jesus, oportunizamos transformação para liberdade (v5); a convivência com os fariseus reclinava os homens à um favor opressor, como os do romanos (v7a);

                2.3 A sala do convivium dos fariseus expunha a 'categoria dos convidados' ( onde segundo Plínio, 'os comensais metiam o pé no  peito do outro, por conta da disposição dos divâs para a ceia romana), que agraciava os só os mais chegados'; na presença de Jesus, a misericórdia se oferece como um convite para incluir os afastados que o pecado mutilou (Lc 15.7, 10; 24, 32, 19.9-10);

 

3. Um lar que especialmente acolhe os escolhidos

                3.1 A busca pelo destaque no convivium ofuscava o valor fundamental para aquela reunião social: o desfrutar da intimidade do anfitrião (v7-10; 1 Pe 5.5);

                3.2 O privilégio do convivium fariseu era um destaque meritocrático na ceia (comia maise melhor quem chegasse mais perto); com Jesus, o convívio serve como acesso para um favor imerecido, e o privilégio se exerce não pelo destaque que o convidado chama mas pela intimidade que o Anfitrião concede (Lc 7.44-50).

 

Conclusão/Apelo:

Oramos por lares que precisam conhecer mais da graça  de Jesus, a qual seus direitos temporais e suas justiças próprias individuais não podem alcançar;

Pelo exercício do convívio da misericórdia ao invés do juízo dentro dos lares, atraindo afastados para a regeneração e não para exposição que ajuíza sentenças;

Pelo acolhimento da intimidade que sinaliza a presença de Jesus, e não pela conquista dos méritos pessoais dos integrantes de cada lar.